O ESG é uma prática cada vez mais comum nas empresas. Sob o Pacto Global, lançado nos anos 2000, os padrões estão diretamente ligados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que reúnem os principais desafios e vulnerabilidades da sociedade. O Grupo HEINEKEN tem priorizado a agenda ESG numa preocupação de garantir ações sustentáveis, respeitando cada vez mais o planeta.
Consciente dos impactos causados por suas embalagens, a companhia desenvolveu uma série de iniciativas para buscar, sozinha ou por meio de parcerias, as soluções para isso. Em um bate-papo com o Ecoaliza, Patricia Mistura, coordenadora de Sustentabilidade do Grupo HEINEKEN, conta mais sobre o que eles têm feito nesse sentido”
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Explique um pouco sobre a meta de circularidade. Qual será o destino dado às embalagens?
Dentro de nossas estratégias de ESG que olham para a nossa cadeia de valor de ponta a ponta, está a meta de termos 100% de circularidade das embalagens no ON Trade (bares, restaurantes e casas noturnas) e do plástico no ON e OFF (supermercados) até 2025. Nossa meta é garantir, cada vez mais, a logística reversa das embalagens que colocamos no mercado. A partir disso, nos responsabilizamos a reinseri-las no processo de produção e distribuição dos produtos por meio da reutilização ou transformando-as em insumo para outras cadeias. Por isso, os nossos projetos nesse sentido consideram os dois caminhos: retornabilidade e reciclagem. Atualmente, 60% do volume das nossas embalagens já são retornáveis. No entanto, temos concentrado nossos esforços em aumentar este percentual, considerando também as ocasiões de consumo, conscientização e o engajamento tanto dos parceiros (bares, restaurantes, supermercados etc.) quanto do consumidor final.
Hoje a circularidade do vidro é bastante discutida por ser mais complexa. Quais são exatamente os desafios com esse material e o que o Grupo HEINEKEN está fazendo para lidar com eles?
O desafio dessa cadeia está principalmente na perspectiva territorial, ou seja, é um material complexo, pesado, de alto risco de manuseio (podendo causar mais acidentes) e com um baixo valor agregado. Além disso, há uma concentração das vidraçarias em apenas algumas regiões do país, tornando sua circularidade mais difícil e cara devido à extensão do Brasil. Para aquelas embalagens que chamamos de one way (não retornáveis) o principal caminho é fechar o ciclo, isto é, reciclar para que se tornem garrafas novamente, num processo de ponta a ponta, porém, como via alternativa, também é possível fazer a reciclagem das mesmas destinando-as para uma outra cadeia, por exemplo, transformando esse vidro em matéria prima para a construção civil. No pilar da reciclagem temos trabalhado sob uma perspectiva de hubs: os internos, identificando como utilizar a nossa infraestrutura de Centros de Distribuição e cervejarias para que sejam pontos de concentração de vidro; os externos, que consideram as cidades populosas para a formação de consórcios junto às prefeituras e cooperativas – a exemplo do que temos estudado junto a parceiros para o Estado de Minas Gerais e os em regiões críticas ou remotas, mais distantes das vidraçarias ou com acesso mais difícil. Atualmente contamos com vários programas estruturantes para essa cadeia como Glass is Good, Ecogesto, Recupera, Cidade Recicleiros. Ao mesmo tempo, outros projetos têm maior foco na conscientização dos consumidores e na visibilidade da importância da reciclagem e como exemplo temos o programa SO+MA Vantagens e o projeto Volte Sempre, este último disponibiliza máquinas de coleta e trituração do vidro e geram vantagens para os consumidores, garantindo a circularidade completa do material por meio de parcerias com pontos de venda, cooperativas e vidraçarias.
Até 2025, a previsão é de reduzir 25% do volume total do plástico no portfólio da companhia. O Grupo pretende aumentar essa meta depois de atingi-la ou buscará por formas de garantir a reciclabilidade desse material?
O objetivo dessa meta é reduzirmos o uso desse material que, de maneira geral, é mais consumido fora do local onde é comprado (supermercados e mercearias, por exemplo), o que acaba exigindo que o maior esforço para a sua reciclabilidade seja feita por parte dos consumidores, que precisam descartá-lo corretamente. Quando não são direcionados aos locais corretos de coleta, ele pode causar grandes impactos no meio ambiente. No entanto, o plástico é um material muito benéfico do ponto de vista de usabilidade, por ser um material leve e de fácil manuseio, além de ser financeiramente acessível, reciclável e não precisar ser lavado após o uso, sendo um tipo de embalagem ideal para diversas ocasiões de consumo. Por isso, nós retiramos as garrafas PET de 1 e 2 litros de nossas marcas Itubaína, FYs, Skinka e Viva Schin, além de PET de 1,5 litro da Skinka e Água Schin, movimentação que faz parte do nosso compromisso de reduzir em 80% o volume de PET do nosso portfólio até 2025, mas mantivemos outras embalagens plásticas. Isso porque acreditamos que, se direcionarmos os nossos esforços, junto aos de nossos parceiros e dos consumidores, por meio de ações de engajamento e conscientização, podemos usar o plástico como um aliado, sem que haja impactos negativos para a natureza.
Desde quando o programa SO+MA Vantagens existe? Como ele funciona e quantas pessoas já foram beneficiadas com o projeto?
O SO+MA Vantagens, foi criado em 2017 pela startup SO+MA, primeira fintech do país a unir benefícios reais a atitudes socioambientais, é um programa que reúne a preocupação ambiental com a social, permitindo o acúmulo de pontos a cada material reciclável entregue pelos participantes, os quais podem ser trocados por produtos essenciais (higiene e alimentação, por exemplo) ou cursos profissionalizantes. Em parceria com o Grupo HEINEKEN, são 12 casas SOMA só no município de Salvador, em parceria com a prefeitura, numa iniciativa público-privada considerada uma solução de política pública de gestão de resíduos. Hoje mais de 12.700 famílias já foram atendidas em Salvador pelo programa.
Quando o projeto TC100 estará totalmente pronto? Existem planos de escalabilidade em caso de sucesso? Quais serão as próximas cidades contempladas?
A ideia do TC100 (Território 100% Circular) é buscar por soluções que possam tornar territórios mais circulares, fazendo de Telêmaco Borba um modelo, e o objetivo é que esse município esteja rondando essas iniciativas até o fim de 2022. Precisamos prototipar o máximo de soluções que permitam ampliar os estudos e refinar a metodologia do projeto, para que possamos levar a iniciativa para outras cidades brasileiras. Assim que finalizarmos essa etapa, iremos colocar todas as soluções criadas em prática primeiramente na cidade piloto e acompanhar os resultados. Assim será possível identificarmos pontos de melhoria, acertos e o potencial de escalação de cada iniciativa e, então, replicar o modelo pelas demais cidades que queiram ser um território onde se recicla o máximo possível de embalagens e se envia o mínimo para aterro. No entanto, a definição das próximas cidades dependerá dos resultados desse projeto piloto e, ainda, das condições de cada localidade, já que os desafios mudam de acordo com a região, quantidade de habitantes, estrutura da cidade, entre diversos outros fatores.
Há quanto tempo o Projeto Noronha Zero Plástico existe? De que maneira esse projeto ajudou a reduzir o descarte incorreto de plástico no arquipélago? Ele ainda está em funcionamento?
Após assinatura do Decreto Noronha Plástico Zero pela Administração da ilha, em 2019, as empresas Menos 1 Lixo e Iönica desenvolveram um projeto para implementar as mudanças no local. Nós entramos como facilitadores dessa iniciativa, contribuindo para a instalação de um Centro de Engajamento – com atrações turísticas e artísticas para a conscientização da população-, formação de líderes multiplicadores, entrega de kit de materiais reutilizáveis aos moradores e turistas e, ainda, fomos os responsáveis pela melhoria do sistema de coleta e beneficiamento do vidro consumido e descartado na ilha. As ações que dizem respeito à infraestrutura foram todas concluídas e, as ações relacionadas às atividades culturais e de educação ambiental vão se renovando com o tempo, mantendo sempre a nossa parceria com a população local e a administração pública. Não é preciso visitar a Ilha para conhecer o Noronha Plástico Zero em detalhes, no site do projeto é possível fazer uma visita guiada on-line (http://www.noronhaplasticozero.com.br/)
Qual é o destino das garrafas que são enviadas para a reciclagem no programa Glass is Good?
O Glass is Good é um projeto liderado pela ABRABE (Associação Brasileira de Bebidas), do qual nós fazemos parte, que se propõe a desenvolver ações que possibilitam a aproximação e integração dos diferentes elos da cadeia de logística reversa das embalagens de vidro pós-consumo. O projeto começa nos locais onde acontece o descarte da embalagem depois de consumida, como bares e restaurantes, e os conecta com os responsáveis pela coleta e triagem do material (como as cooperativas de catadores de materiais recicláveis e outras empresas ambientais parceiras) até retornar o resíduo aos beneficiadores ou fabricantes de embalagens de vidro para que seja feita a reciclagem.
O Instituto HEINEKEN foi criado para valorizar e capacitar, entre outros públicos, os catadores de materiais recicláveis. Esse Instituto já está funcionando? De que maneira a empresa espera contribuir com a circularidade de embalagens por meio da atuação com esse público?
Os catadores de materiais recicláveis são, hoje, um dos principais responsáveis pela eficácia da logística reversa de materiais, principalmente do alumínio, que em 2021 teve uma taxa de 97,8% de reciclabilidade, e do papel. No entanto, este é ainda um modelo de trabalho informal e conta com muitos profissionais trabalhando de maneira totalmente autônoma e, portanto, vulnerável. Por isso, um dos principais objetivos da existência do Instituto HEINEKEN é contribuir para a valorização e capacitação dos catadores de materiais recicláveis – bem como dos vendedores ambulantes, além de trabalhar iniciativas de conscientização sobre o consumo responsável de álcool em jovens. Para que isso seja possível, estamos nos aliando a parceiros especializados nos desafios desse público para criar iniciativas que irão, de fato, contribuir para a geração de emprego e renda e, consequentemente, melhorar as suas condições de trabalho, que certamente irão refletir no beneficiamento da cadeia de logística reversa de materiais recicláveis. Sabemos que o nosso papel vai muito além de somente oferecer produtos de qualidade e estamos comprometidos em promover um impacto positivo na sociedade.
Considerando que latas são mais sustentáveis que garrafas de vidro ou PET, o Grupo HEINEKEN tem planos de envasar suas bebidas apenas em latinhas de alumínio no futuro?
Temos consciência de que precisamos diminuir a utilização de alguns tipos de materiais, como o PET, e já iniciamos essa movimentação no ano passado, diminuindo em 80% o volume dessa embalagem em nosso portfólio. No entanto, cada tipo de embalagem, seja vidro, plástico ou alumínio, é ideal para a venda e consumo de cada ocasião e, por isso, mais do que substituir todos os outros materiais pelo alumínio, movimento que não teria um impacto tão significativo, já que outras indústrias muitas vezes dependem totalmente do plástico e do vidro, nós acreditamos que o melhor caminho seja inovarmos e desenvolvermos soluções para lidar com os desafios que essas embalagens apresentam, trabalhando não apenas para reduzir os nossos impactos, mas para impulsionar mudanças e deixar legados para todo o mercado.
Qual é a importância de formar parcerias para o desenvolvimento e execução de projetos de sustentabilidade? Você poderia, por favor, mencionar alguns dos parceiros que atuam junto ao Grupo nas iniciativas em andamento?
Acreditamos que parcerias são a principal forma de potencializar a inovação, já que elas proporcionam a conexão de expertises e habilidades, impulsionando e acelerando os processos na busca pelas soluções das diversas necessidades de melhoria que temos hoje em relação ao desenvolvimento sustentável. Atualmente, somos parceiros de diversas empresas, entidades e startups, nas diversas frentes que atuamos: Hub Incríveis, Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), SO+MA, 4RGLASS/Seiva, Maker Brands, Avina, Instituto Recicleiros, entre outros…