Projeto inovador em Belo Horizonte, trata-se de uma compostagem acelerada, feita em apenas sete dias, enquanto as técnicas tradicionais demoram cerca de seis meses
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 30% dos alimentos produzidos no Brasil vão para o lixo, o equivalente a cerca de 46 milhões de toneladas/ano. Essa quantidade seria suficiente para alimentar 216,8 milhões de pessoas, número maior que toda a população brasileira, que segundo a prévia do Censo 2022 é de 207,7 milhões de habitantes. Os índices nos colocam na 10ª posição no ranking de países que mais desperdiçam comida, conforme levantamento da ONU.
Algumas grandes empresas vêm incorporando práticas sustentáveis no dia a dia, reaproveitando resíduos e transformando o que seria lixo em produto útil. É o caso do BH Shopping, primeiro empreendimento do Grupo Multiplan, que há quase 10 anos desenvolve o ‘Projeto Muda’.
A iniciativa reaproveita o lixo orgânico (restos de comida) gerado diariamente na praça de alimentação e resíduos verdes (plantas que seriam descartadas) para a produção de fertilizantes. O adubo é usado nos canteiros do mall e nos jardins do entorno do shopping. O projeto é um dos braços do projeto Multiplique o Bem, hub de iniciativas adotadas pela Multiplan com o propósito de contribuir com o desenvolvimento social e a qualidade de vida nas comunidades onde seus shoppings estão presentes.
De acordo com a superintendente do BH Shopping, Simone Fiorello, o projeto é inovador, por ser uma compostagem acelerada, feita em apenas sete dias, enquanto as técnicas tradicionais demoram seis meses. “A separação do lixo começa quando funcionários especializados colocam os resíduos orgânicos em recipientes exclusivos. O material, coletado diariamente, passa por uma primeira triagem feita pela nossa equipe de limpeza e, em seguida, é encaminhado para a Unidade Compacta de Tratamento de Resíduos (UCTR), localizada no próprio mall. Nesse local, é feita uma segunda decupagem, ou seja, a separação do alimento dos demais resíduos”, explica.Todo o rejeito é pesado de 100 em 100 quilos e colocado em uma esteira com serragem. Depois disso, é direcionado, via esteira, para um equipamento chamado Bio Reator, onde “a mágica acontece”. Nesse momento são inseridas duas enzimas no processo, que são as responsáveis pela aceleração da decomposição. O método, praticamente inodor em função das enzimas, dura aproximadamente 45 minutos. Após isso, o fertilizante orgânico está quase pronto: basta retirar o material e deixar descansar por cerca de quatro dias. Em seguida, tudo é triturado e, depois de mais três dias, já pode ser utilizado.
Graças ao processo, cerca de oito toneladas de resíduos orgânicos, que iriam para aterro sanitário, são recicladas por mês. “Quando a gente vê o passo a passo desse processo, conseguimos perceber o ciclo com clareza, ou seja, o empreendimento produz o lixo mas também dá um destino correto a ele.
Costumo dizer que ao se transformar em compostagem, o lixo orgânico ganha um destino nobre. O nosso contribui para embelezar o entorno do BH Shopping”, destaca a executiva, acrescentando que os resíduos não orgânicos, entre eles as embalagens de plástico, são destinados a fornecedores capacitados para a reciclagem, reutilização ou tratamento.
Simone finaliza dizendo que outro importante objetivo da iniciativa é contribuir para o chamado ‘aterro zero’. “O aterro também tem vida útil. Em algum momento ele não vai mais comportar tanto lixo. Quando isso acontecer, para onde vão os resíduos? Então, é necessário desenvolvermos ações em que cada um seja responsável pelos itens que descarta. É claro que não é possível reciclar tudo. Mas temos que trabalhar sempre pensando em reaproveitar o máximo possível. É uma atitude consciente, que diminui impactos futuros para nós e, consequentemente, para o planeta”.