Antes mesmo da celebração marcada pelo consumo de ovos de chocolate, as pessoas já estão pagando mais caro pelo chocolate e, cada vez mais, surgem nas prateleiras os produtos “sabor chocolate”, com mais gordura e menos cacau. E como isso se relaciona com a cultura ancestral do cacau, as mudanças climáticas e a dificuldade dos produtores em acessar linhas de crédito? Esse cenário, observado mundialmente, tem levado à baixa produtividade das lavouras, resultado de fatores como mudanças climáticas, envelhecimento das plantações, práticas agrícolas inadequadas e falta de acesso a tecnologias e financiamento. Com a oferta limitada e a demanda crescente, o cacau foi a commodity agrícola que mais valorizou em 2024, com alta de 150%, passando de US$12 mil a tonelada na bolsa de Nova York, segundo o Valor Data.
Historicamente, o Brasil já foi o maior produtor mundial de cacau, com destaque para o sul da Bahia, onde o cultivo ocorre sob a sombra da Mata Atlântica, no sistema agroflorestal conhecido como Cabruca. No entanto, desde a década de 1980, desafios como doenças fitossanitárias, oscilações no mercado global, barreiras tecnológicas e falta de acesso ao crédito levaram à crise do cacau, impactando milhares de produtores. Uma das principais frentes de atuação do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) no sul da Bahia e no Pará é o manejo sustentável do cacau, promovendo a conservação dos biomas e a geração de renda para negócios comunitários. Só em 2024, a Conexsus formou seis parcerias, cadastrou 1.001 famílias no registro socioprodutivo, mapeou 27.511 hectares, mobilizou R$ 7,2 milhões em crédito rural, garantiu R$ 1,2 milhão em financiamento para negócios comunitários e efetivou 132 contratos de crédito.
“Um dos principais desafios da produção de cacau é o envelhecimento das lavouras. Já temos tecnologia no campo para reverter esse problema, mas o grande entrave é a falta de acesso ao crédito. O crédito ambiental tem um enorme potencial para renovar as plantações, tornando-as mais resistentes às doenças e às variações climáticas”, afirma Paula Pannain, mentora de crédito da Conexsus. A Conexsus já viabilizou acesso ao Pronaf Floresta para renovação de lavouras no sul da Bahia, demonstrando que é possível mitigar os impactos da alta dos preços e aumentar a produtividade cacaueira. A organização também apoia negócios comunitários da agricultura familiar e do extrativismo, conectando-os a mercados locais, regionais, nacionais e internacionais, além de viabilizar investimentos financeiros customizados para fortalecer suas operações.
Para entender melhor a crise do cacau, confira o episódio especial com Josiane Luzz, criadora da marca Luzz Cacau.