Tecnologia de primeiro mundo trará valores ambientais e sociais à região
Mais de 650 toneladas de lixo são produzidas por dia na região metropolitana de Campinas, em sete municípios da região: Capivari, Elias Fausto, Hortolândia, Monte Mor, Nova Odessa, Santa Barbara d’Oeste e Sumaré.
O levantamento foi realizado pelo CONSIMARES nos últimos três anos. Os resíduos são encaminhados para dois aterros sanitários privados, um localizado na cidade de Paulínia, que recebe 70% do lixo, e o outro, em Indaiatuba, que recebe 7% do lixo. A diferença de 23% vai para um aterro municipal, atendendo apenas a cidade de Santa Barbara D’Oeste.
Para carregar todo o lixo da região são necessárias pelo menos 65 viagens de caminhões trucados (eixo com 4 rodas) todos os dias. Juntos, eles conseguem levar até 10 toneladas de resíduos por viagem.
O problema é que além dos custos altos com os deslocamentos, insalubridade nas operações, além das emissões de gases de efeito estufa, estes aterros estarão saturados em alguns anos.
Diante da urgência em procurar um destino mais sustentável para o lixo gerado nestas cidades, nasceu o movimento Lixo Tem Valor, que tem como proposta conscientizar a população sobre a importância da implantação do modelo de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, que entre diversas frentes, culmina na Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Consimares, no segundo semestre de 2022.
O projeto faz parte de um consórcio entre estes sete municípios vizinhos, que juntos somam aproximadamente 942 mil habitantes.
Esta será a primeira usina de produção de energia a partir do lixo, na região metropolitana de Campinas. A planta fica na cidade de Nova Odessa, em zona industrial, afastada do perímetro urbano, próxima da rodovia Anhanguera.
Quando estiver em operação a usina vai promover o tratamento diário das 650 toneladas de lixo produzidas pela população, gerando 160 mil MWh/ano— o suficiente para abastecer quase metade da demanda da região.
Em âmbitos gerais, o Brasil carece de destinação final ambientalmente adequada para os resíduos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 2% são reciclados, e outros 2% passam pela biocompostagem. Enquanto aproximadamente 96% são enviados para aterros sanitários e lixões, sem qualquer tipo de tratamento. Além dos riscos ao meio ambiente e à saúde pública, isso também significa uma oportunidade perdida na geração de energia.
Para além da questão energética, a Central de Tratamento trará soluções sanitárias e ambientais aos municípios, como a criação de estruturas com equipamentos de triagem de resíduos de coleta seletiva para os municípios atenderem o Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Consimares e Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES). O projeto garante ainda a inclusão de catadores de recicláveis em cooperativas e associações, sendo responsável pela geração de centenas de empregos diretos e indiretos, desde sua construção, operação e manutenção constante.
Benefícios da tecnologia
Essa tecnologia é mundialmente reconhecida como a única capaz de mitigar as emissões de gases de efeito estufa produzidos nos aterros sanitários. Além disso, com a reciclagem de 99% do volume tratado, evita-se a contaminação do solo e lençóis freáticos, eliminando também odores desagradáveis, contaminantes e presença de animais e insetos no perímetro.
O resíduo final pós-tratamento é um material inerte e inofensivo, utilizado, por exemplo, como complemento na produção de asfalto para melhorias na infraestrutura de regiões periféricas e como aditivo no concreto empregado na construção de moradias populares, postes de transmissão de energia elétrica e manilhas de água e esgoto.
“Para entender melhor o processo de tratamento, todo o resíduo que chegar à Central será triado, sendo que os materiais recicláveis provenientes da coleta seletiva, serão separados pelos catadores – parte essencial nesse processo – e totalmente reaproveitados.
Já os rejeitos – materiais sem valor econômico e/ou não recicláveis, como o isopor – são destinados ao tratamento térmico sendo transformados em energia elétrica”, explica o engenheiro elétrico Antonio Bolognesi, à frente do projeto, e um dos maiores especialistas na área de gestão de energia no Brasil.
Outro destino importante é dado aos resíduos orgânicos provenientes de podas de árvores, praças, canteiros e limpeza de feira livre. Eles são tratados a partir de um eficiente sistema de biocompostagem, para posteriormente serem utilizados como adubo orgânico, retornando aos canteiros, parques, praças e agricultura familiar.
Segundo mapeamento do setor elaborado pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), quase 80 milhões de toneladas de lixo por ano poderiam funcionar como fonte de energia, como é feito em vários países.
Alemanha, Japão, Cingapura, Estados Unidos, Portugal, China, França, Noruega, entre outros, possuem mais de 2.500 unidades de tratamento em operação. Somente na Alemanha, após a adoção da tecnologia nos últimos 20 anos, as taxas de reciclagem passaram de 3% para mais de 27%. Um salto de qualidade vital ao meio ambiente e à saúde humana.
Marco regulatório
O mercado de recuperação energética de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) poderá se consolidar graças ao novo marco regulatório do saneamento, aprovado pelo Congresso em 2020. Além da PNRS de 2010, que veta a partir deste ano, a criação de novos aterros sanitários, pressionando os tomadores de decisão para que formas mais sustentáveis de destinação de resíduos sejam adotadas.
Levando em conta esse cenário, o Ministério de Minas e Energia (MME) organizará leilões para que as centrais de tratamento de resíduos possam vender sua energia, viabilizando assim os projetos. As concessões poderão ter validade de até 30 anos.
Atualmente existe no Brasil um potencial para a instalação de mais de 120 unidades geradoras de energia a partir do lixo nas 28 regiões metropolitanas. Para a Abren, tais empreendimentos também seriam grandes geradores de empregos, com investimentos na ordem de R$ 75 bilhões nos próximos anos.
Ainda de acordo com a entidade, apenas durante a construção dessas usinas seria possível disponibilizar 24 mil vagas, além de outras 9 mil quando já estiverem em operação.
Com início da construção programada para o segundo semestre de 2022 e conclusão em 2025, num custo total de R$ 500 milhões, a previsão é que Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Consimares comece a operar no mesmo ano para responder aos desafios do lixo de maneira sustentável e responsável.