Por Ricardo Amaral*
O mundo alcançou uma série de avanços na indústria e na tecnologia, resultado de dois séculos de desenvolvimento. Mas o planeta hoje também encara acontecimentos desafiadores para a humanidade, o que obriga a todos a reavaliar as condições de vida, o cuidado com o meio ambiente e os modelos de desenvolvimento. Entre as várias tendências para combater as ações que degradam o meio ambiente está a busca por novas fontes de energia que possam atender às demandas de consumo, de forma não poluente e sustentável.
Diante dessas demandas, as empresas são grandes facilitadoras da sustentabilidade e têm buscado integrar sua produção com a adoção das práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG). Especialmente no Brasil, as iniciativas voltadas para a sustentabilidade têm, entre os principais desafios, impactar a nossa conhecida desigualdade social e econômica, além de explorar a diversidade da matriz energética do país.
A preocupação com as fontes de energia vem ao encontro de outra demanda global, que é a redução de emissão de gases de efeito estufa, principalmente o CO2. O Brasil é fortemente cobrado por medidas que protejam a Amazônia, como forma de combater as emissões de poluentes que se originam do desmatamento e de incêndios na sua maior floresta. Nosso país, de dimensões continentais, foi brindado com uma variedade de fontes de energia renováveis e não renováveis, mas com dificuldades de atender populações mais pobres e moradoras de áreas remotas.
Uma forma de mitigar esses problemas está em buscar vantagens nessas adversidades. E é na diversificação das matrizes de energia renováveis que o Brasil pode encontrar meios de ativar novas iniciativas de geração e consumo de energia, como forma de descarbonizar a economia, além de beneficiar a sociedade e o meio ambiente.
Segundo publicação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil sai na frente em relação ao mundo em fontes renováveis, que são cerca de 48% do seu mix energético, como lenha e carvão vegetal, hidráulica, biomassa, derivados de cana e outras renováveis. Enquanto isso, a média mundial divulgada pela EPE tem apenas cerca de 14% da sua energia proveniente de fontes renováveis.
Pode-se dizer que a matriz elétrica brasileira é ainda mais renovável, pois grande parte da energia elétrica do país vem das usinas hidrelétricas, cerca de 65,2%. Entretanto, até meados dos anos 2000, 90% da matriz elétrica brasileira dependia de fontes hidrelétricas, o que a tornava vulnerável pelos períodos de escassez de chuva. Além disso, a estrutura e os montantes de investimentos necessários para instalação de usinas e redes de distribuição são caros para chegar a populações em rincões do país.
Mas, de alguns anos para cá, o Brasil começou a mudar esse cenário com o investimento como a energia solar. O país tem uma posição geográfica que confere incidência solar constante na maior parte do território e praticamente todo o ano. O investimento nessa tecnologia tem sido vantajoso, além do favorecimento do clima e geografia que permite um alto aproveitamento dessa fonte energética. Além disso, a lei federal 14.300/22 sancionada este ano, que criou o marco Legal para a Geração Distribuída no Brasil, deu mais segurança jurídica para o setor solar.
Apesar de representar 1,7% da fonte de energia renovável, a tendência de crescimento da energia solar no país pode ser observada pelo recorde de investimento. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), os investimentos nesse setor no Brasil atingiram, em 2021, a soma de R$ 21,8 bilhões, o maior valor em um ano. O valor representa um aumento de 49% comparado ao registrado em 2020. Já segundo a consultoria Bloomberg New Energy Finance, em 2050 projeta-se que cerca de 32% da energia nacional será solar, enquanto a hidrelétrica cairia para 30%.
Dentre os projetos que consomem o investimento estão os de grandes usinas e os sistemas de geração distribuída, que envolvem a instalação de placas fotovoltaicas em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Segundo a Absolar, as residências representam 78,4% das conexões de energia solar.
Atualmente, o Brasil tem cerca de 270 localidades que não estão ligadas à transmissão de energia interligada do SIN (Sistema Interligado Nacional). Cerca de 990 mil pessoas nessas comunidades, entre os quais pescadores, indígenas e pequenos produtores – alguns utilizam diesel para poucas horas de energia por dia –, estão situadas na região norte do país, em áreas florestais da Amazônia Legal, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). São locais de difícil acesso e com grandes desafios de licenciamento para a construção de linhas de transmissão. Essas localidades podem ser beneficiadas com vantagens de uma fonte limpa e renovável como a energia solar.
Os avanços tecnológicos dessa alternativa barateiam os custos dos painéis fotovoltaicos e, com o aumento de escala, o custo de produção de equipamentos tende a diminuir. É uma forma de colocar em prática e desenvolver projeto com a chamada energia 4D: descarbonizada, livre de emissão de CO2, descentralizada, alcançando comunidades isoladas; digitalizada, com sistemas que permitam a agregação de ferramentas tecnológicas eficientes; e diversificada, com tecnologias e fontes que contribuem para a descarbonização.
Nesse sentido, projetos como a energia solar guardam semelhança com a tecnologia de comunicação via satélite. Sem barreiras geográficas, seu objetivo é levar tecnologia de ponta a lugares de difícil acesso e prover serviços que outras empresas não realizam. Atualmente, ambas as tecnologias atuam associadas em projetos de energia solar, permitindo que equipamentos solares e empresas de energia possam medir, monitorar e gerir informações geradas em sistemas isolados, como residências. Sem as características de cobertura e conectividade do satélite e das placas solares, seria quase impossível executar essas soluções de forma tão eficiente.
Empresas que estão desenvolvendo projetos em fontes eficientes e inteligentes de energia como a solar exemplificam que é possível ousar em sustentabilidade. Populações em regiões remotas poderão ganhar autonomia, com benefícios básicos como energia para geladeiras, eletrônicos e internet, que ao longo do tempo poderão proporcionar acesso à internet e a outros meios de informação, educação e comunicação.
*Ricardo Amaral é vice-presidente de Marketing e Vendas para Enterprise da Hughes do Brasil