Uma nova pesquisa do Sindicato da Indústria de Material Plástico (Sindiplast) e da consultoria Nexus traz à tona um panorama surpreendente sobre o perfil do brasileiro que adota hábitos sustentáveis. Contrariando a percepção de que a sustentabilidade é um luxo das classes mais ricas, o estudo revela que a vanguarda do movimento contra o desperdício e a favor da reciclagem é formada, em sua maioria, por indivíduos com renda entre 2 e 5 salários mínimos – um grupo que ganha entre R$ 3.036 e R$ 7.590 mensais.
Esses dados, que mostram que nove em cada 10 brasileiros que evitam a geração de lixo estão nessa faixa de renda, desafiam a lógica convencional. Enquanto a classe mais alta, com acesso privilegiado à informação e infraestrutura, não lidera o ranking de práticas sustentáveis, os brasileiros de renda intermediária emergem como os mais engajados na reciclagem.
O estudo aponta que, apesar das barreiras econômicas e da falta de estrutura pública, como a coleta seletiva, a sociedade brasileira demonstra um esforço coletivo notável. Cerca de 81% dos entrevistados afirmam evitar o desperdício, e 75% separam materiais para reciclagem em casa.
Sobre a pesquisa
A pesquisa também ressalta o papel central do plástico nesse cenário. Apontado como o material mais reciclado no Brasil, com 90% de taxa de reciclagem – superando alumínio e papel –, o plástico é visto por seis em cada dez brasileiros como um item essencial, principalmente por sua capacidade de conservação e higiene. Essa visão positiva, no entanto, esbarra em desafios persistentes.
A falta de informação (28%) e de infraestrutura pública adequada (17%) são citadas como os principais obstáculos para uma adesão ainda maior. O estudo do Sindiplast e da Nexus evidencia que, para impulsionar a sustentabilidade no Brasil, é crucial focar não apenas em campanhas de conscientização, mas também na expansão de políticas públicas que facilitem a reciclagem para toda a população.
Os resultados da pesquisa sublinham a importância de entender as motivações e os desafios de diferentes grupos sociais. A discrepância no engajamento entre as faixas de renda sugere que a conscientização por si só não é suficiente; é preciso que ela se traduza em ações práticas e acessíveis a todos, independentemente da condição financeira. A atitude sustentável, portanto, parece estar mais ligada à educação e à consciência individual do que simplesmente à capacidade econômica.
Além disso, o estudo lança luz sobre o potencial inexplorado das classes mais altas em relação à sustentabilidade. Embora desfrutem de mais recursos e acesso à informação, esses grupos ainda não estão no topo do ranking de recicladores. Esse dado levanta questionamentos sobre como os hábitos e a cultura de consumo influenciam a adoção de práticas sustentáveis e como campanhas podem ser mais eficazes ao atingir diferentes públicos. A pesquisa serve como um alerta para que a responsabilidade ambiental seja vista como uma meta coletiva, que ultrapasse as barreiras de renda e classe social.